Morte de Saddam...
A véspera de ano novo ficou como data oficial do homicídio de Saddam Hussein, mas a sua morte há muito que se anunciava, já desde os idos anos 80 quando resolveu confiar no poder do diabo. As armas químicas que na altura recebeu, enviadas pelos profetas da liberdade, não lhe permitiram a salvação nem lhe valeram piedade, nem tal ficou registado nos autos do julgamento meteórico do qual foi vítima, pelo contrário, arrumou-se de vez com a questão e não se fala mais nisso. Só que, nesse mesmo dia, mais 70 pessoas morreram, vítimas da tal liberdade que Bush disse ter saído vencedora, aumentando a contabilidade geral para números que alguns dizem andar perto do milhão. O rápido julgamento, esse, restringiu-se a factos relacionados com a morte de 148 curdos, não havendo tempo ou vontade de discutir, por exemplo, porque morreram os mais de 150.000 xiítas que se insurgiram por conselho do profeta pai nos anos 90. Diz-se que não se podia discutir os segundos porque o assunto encerrou nos primeiros, ficando esse «julgamento» adiado para uma próxima vez, quem sabe nunca ou talvez havendo outra liberdade e protagonistas, e se for permitido abordar esse assunto ao contrário do que acontece com outros. O importante é o reforço da democracia que o «cowboy» disse ter saído vencedora, através do rápido laço de corda à boa maneira do Oeste, esperemos é que esse reforço não seja para exportar pelos xerifes mundiais aos restantes países do chamado Terceiro Mundo, como o nosso que foi o primeiro a abolir tais práticas, senão não haveria corda suficiente para todos.
Mais sobre a execução de Saddam
Recusou a venda. O olhar estava ausente como se não entendesse o que se passava. Rezou e morreu pela forca ao amanhecer de mais um dia de extrema violência no país. O ex-ditador deverá ser sepultado hoje em Tikrit, sua terra natal. Polémico, Saddam divide o Mundo também com a sua morte.
Olhar ausente, passos trémulos, Saddam Hussein caminhou para a morte com a compostura que não soube mostrar aquando da invasão norte-americana do Iraque, em 2003. Recusou ser vendado. O pescoço foi-lhe envolvido por um pano negro, para minorar os efeitos cortantes da corda. Rezou, entregando-se nas mãos de Alá antes de os carrascos, de rosto coberto por capuzes, lhe passarem a forca pelo pescoço.As imagens ontem reveladas não mostram o momento em que foi suspenso, mas testemunhas contaram como foi bem audível o estalar do seu pescoço. O cadáver, envolvido numa mortalha, foi depois mostrado na TV iraquiana. O filme, de imagem granulada, mostra o pescoço contorcido do enforcado. “Morrerei como um mártir”, afirmara dias antes o ditador, que durante 30 anos governou com punho de ferro o Iraque, eliminando sem contemplações quantos se atravessaram no seu caminho.Eram seis da manhã (menos três horas em Portugal) quando a polémica execução teve lugar. O segredo foi preservado até ao limite, para evitar surpresas, e até o local do enforcamento foi mantido secreto. Dizia- -se que a forca tinha sido montada na Zona Verde, a mais segura de Bagdad (onde estão as embaixadas dos EUA e Reino Unido e a sede do governo iraquiano), mas o palco dos derradeiros instantes de vida de Saddam foi outro: uma antiga caserna de cimento numa base iraquiana conhecida pelos americanos como Camp Justice, em Khadimiya, subúrbio a norte da capital iraquiana.
Olhar ausente, passos trémulos, Saddam Hussein caminhou para a morte com a compostura que não soube mostrar aquando da invasão norte-americana do Iraque, em 2003. Recusou ser vendado. O pescoço foi-lhe envolvido por um pano negro, para minorar os efeitos cortantes da corda. Rezou, entregando-se nas mãos de Alá antes de os carrascos, de rosto coberto por capuzes, lhe passarem a forca pelo pescoço.As imagens ontem reveladas não mostram o momento em que foi suspenso, mas testemunhas contaram como foi bem audível o estalar do seu pescoço. O cadáver, envolvido numa mortalha, foi depois mostrado na TV iraquiana. O filme, de imagem granulada, mostra o pescoço contorcido do enforcado. “Morrerei como um mártir”, afirmara dias antes o ditador, que durante 30 anos governou com punho de ferro o Iraque, eliminando sem contemplações quantos se atravessaram no seu caminho.Eram seis da manhã (menos três horas em Portugal) quando a polémica execução teve lugar. O segredo foi preservado até ao limite, para evitar surpresas, e até o local do enforcamento foi mantido secreto. Dizia- -se que a forca tinha sido montada na Zona Verde, a mais segura de Bagdad (onde estão as embaixadas dos EUA e Reino Unido e a sede do governo iraquiano), mas o palco dos derradeiros instantes de vida de Saddam foi outro: uma antiga caserna de cimento numa base iraquiana conhecida pelos americanos como Camp Justice, em Khadimiya, subúrbio a norte da capital iraquiana.
“Quando vi o cadáver chorei. Recordei os meus três irmãos e o meu pai, mortos por ele. Aproximei-me do corpo e disse-lhe: ‘Isto é o castigo merecido de todos os tiranos’”, afirmou Jawad al-Zubaidi, uma das vítimas da crueldade de Saddam e testemunha de acusação no seu julgamento por crimes contra a Humanidade. A condenação à morte, recorde-se, diz respeito ao homicídio de 148 xiitas em 1982, em Dujail, em retaliação por um atentado falhado contra o então presidente do Iraque. “Agora está no caixote do lixo da História”, sentenciou Jawad Abdul-Aziz, que perdeu o pai, três irmãos e 22 primos nas represálias de Dujail.SEPULTADO HOJE?O presidente George W. Bush considerou a execução um “importante marco” no caminho para a construção da democracia no Iraque, mas alertou que não porá fim à violência. “É um sinal da determinação do povo iraquiano para seguir em frente após décadas de opressão que, apesar dos crimes horríveis cometidos contra o seu próprio povo, Saddam tenha beneficiado de um julgamento justo”, afirmou, refutando alegações de parcialidade do tribunal.Não era ontem muito claro qual o destino a dar ao cadáver. As filhas de Saddam – Raghad e Rana – exiladas na Jordânia, queriam sepultar o pai provisoriamente no Iémen, o que em princípio tinha sido autorizado pelo primeiro-ministro, Nuri al-Maliki. Mas o advogado libanês Bushra al-Khalil, ligado à defesa de Saddam, afirmou ontem que o corpo do antigo presidente já está em Tikrit, entregue aos líderes da sua tribo, a Abbu Nasir, e será de seguida levado para sepultar em Awja, junto a Tikrit, onde estão enterrados os seus dois filhos, mortos em 2003. O funeral poderá ter lugar ainda hoje, afirmou Khalil. BOMBAS CONTRA BAIRROS XIITASA violência não se fez esperar após o enforcamento de Saddam Hussein. Pelo menos quatro carros armadilhados, cuja explosão visava atingir xiitas de Bagdad e de uma localidade a sul da capital, provocaram ontem a morte a mais de 70 pessoas, horas depois da execução ter sido consumada.Numa altura em que eram esperadas retaliações por parte de apoiantes sunitas ao enforcamento do deposto ditador iraquiano, explodiram, quase em simultâneo, três carros-bomba no bairro de Hurriya – maoritariamente xiita – em Bagdad. As explosões mataram pelo menos 36 pessoas e feriram outras 77. Já em Kufa, perto da cidade sagrada xiita de Najaf, havia registo de pelo menos 36 mortos e 58 feridos na sequência da explosão de outra viatura armadilhada num mercado repleto de pessoas, por ocasião da celebração religiosa muçulmana do Eid al-Adha. De acordo com testemunhas oculares, uma multidão matou um homem que acusava de ter colocado um engenho explosivo naquela localidade.Saliente-se igualmente que o Partido Baas – de Saddam Hussein – exortou os iraquianos a “lutar sem misericórdia” contra os ocupantes norte-americanos e o Irão xiit, para vingar a execução do antigo presidente do Iraque, mas avisou para os riscos de poder ocorrer naquele país uma guerra civil. CRIMES SEM JULGAMENTOOs crimes pelos quais Saddam Hussein foi condenado (a execução de 148 xiitas em Dujail, em 1982) são uma ínfima parte dos que cometeu em 30 anos de ditadura. Entre 1987 e 1989 matou mais de 100 mil curdos na chamada campanha de Anfal (ou Despojos de Guerra). O julgamento por estes crimes foi interrompido pela execução. Acresce que, ainda em 1988, mandou matar num ataque químico pelo menos 5000 pessoas em Halabja. Para lá disto, perseguiu e exterminou o clã Barzani, matando milhares de seguidores do líder curdo. A repressão violenta que permeou o regime é ainda visível nas inúmeras valas comuns encontradas pejadas de cadáveres de xiitas e curdos, executados por se erguerem contra o ditador.
PERFIL
Quando nasceu, em 1937, a mãe, Subha al-Mussallat, escolheu para o futuro ditador iraquiano um nome que ontem ganhou novo significado. Saddam – que significa aquele que enfrenta – tremeu, mas enfrentou a morte, recusando a venda que lhe era oferecida. O seu fim violento encerra uma vida cercada de brutalidade e morte. Órfão de pai ainda antes do nascimento, Saddam Hussein foi alvo frequente de espancamentos por parte do padrasto, facto que o levou a fugir de casa aos dez anos e a refugiar-se junto de um tio, nacionalista fervoroso. Já adulto e inscrito no partido nacionalista árabe Baas, ficou próximo do poder após um golpe de Estado em 1968, levado a cabo pelo seu partido. Governante de facto durante muito tempo, chegou formalmente ao poder em 1978. Um ano depois ordenou a invasão do Irão, dando origem a oito anos de uma guerra sangrenta que vitimou centenas de milhar de pessoas. Apoiado pelos EUA, que viam nele um protector contra o crescendo poder do Irão, Saddam caiu em desgraça depois de invadir o Koweit, em 1990. A intervenção norte-americana acabou com a guerra, mas deixou-o no poder. A ditadura cruel que implantou, durante a qual perseguiu, torturou e matou milhares de pessoas - xiitas e curdos, mas também sunitas opostos ao seu poder - só terminou em 2003, após a invasão liderada pelos EUA. Foi apanhado, escondido num buraco, em Dezembro desse ano, nos arredores de Tikrit. Julgado por crimes de guerra, foi condenado à morte por enforcamento depois de ser julgado por apenas um dos seus inumeráveis crimes.
EXECUCAÇÃO DIVIDE O MUNDOENTRE A ALEGRIA E A REVOLTAO enforcamento de Saddam Hussein encerra um período negro da história do Iraque, mas a execução do ditador trouxe uma vez mais ao de cima as divisões sectárias no país. A imensa alegria dos inimigos do ditador – sobretudo xiitas e curdos, alvos preferenciais da sua crueldade – contrastava ontem com a revolta dos apoiantes sunitas, que prometem vingar com sangue o ‘homicídio’ do seu líder. Noutros pontos do mundo árabe e islâmico a coincidência da execução com o início do festival religioso do Eid al--Ahda (ou Festa do Sacrifício) é mal vista.
“É um insulto para os muçulmanos”, afirmou em Meca um peregrino saudita. Na Europa, enquanto o Vaticano classificava a execução de “tragédia”, os governos da União Europeia (UE) reagiam de forma cautelosa: lamentando, por um lado, o facto de ter sido aplicada a sentença de morte, mas indicando que o fim de Saddam deve fechar um ciclo e abrir ao Iraque um futuro mais pacífico.Enquanto em Bagdad e noutras cidades iraquianas centenas de xiitas e curdos saíram à rua para festejar, os sunitas juravam vingança. “Vamos todos transformar-nos em bombas”, afirmou um jovem revoltado em Awjaba, aldeia dos arredores de Tikrit, onde nasceu Saddam.
Para os curdos, no entanto, a execução chega demasiado cedo, pois interrompe o julgamento por genocídio, no âmbito do qual Saddam respondia pelo massacre, com armas químicas, de milhares de curdos, entre 1987 e 89. Mahmoud Osman, político curdo, sublinhou isso mesmo: “É claro que ele cometeu muitos crimes e merece por eles a pena capital. Mas tão depressa, executado de forma tão súbita... e apenas por um caso – isso deixa muitos outros casos por julgar e muitos segredos por revelar.”Entretanto, o Irão felicitou o povo iraquiano pela execução, enquanto na Líbia, único país solidário com o ditador nas horas finais, foram declarados três dias de luto nacional e canceladas todas as celebrações públicas do Eid al-Ahda.Por outras razões, o Vaticano e a UE partilharam esta postura.
“Uma execução é sempre trágica, razão para tristeza, mesmo quando se trata de uma pessoa culpada de inúmeros crimes”, afirmou Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé.
Por seu lado, países europeus como Espanha, Itália, Alemanha, França, Irlanda ou Reino Unido frisaram todos a sua oposição à pena de morte, embora fazendo notar a culpabilidade de Saddam. A Itália alertou, no entanto, para a possibilidade de um aumento de violência, e a França frisou que o importante agora é “o retorno da estabilidade ao Iraque”.
OUTROS DITADORES
BENITO MUSSOLINIO ditador fascista italiano, no poder entre 1922 e 1945, e a amante, Clara Petacci, foram executados em Abril desse ano por um membro da resistência.
ADOLF HITLER ainda no o período da II Guerra Mundial, mas na Alemanha, o odiado líder nazi suicidou-se, curiosamente poucos dias depois da morte de Mussolin.
NICOLAE CEAUSESCU Depois de uma revolta anti-comunista na cidade romena de Timisoara, o ditador e a mulher, Helena, foram executados, após um julgamento sumário, em 1989.S.
MILOSEVIC Quando morreu, em Março, estava a ser julgado no TPI, em Haia, na Holanda, acusado de planear uma limpeza étnica para a ex-Jugoslávia e de crimes de guerra.
CHARLES TAYLORO ex-presidente da Libéria, que fugiu do país em 2003, está preso em Haia a aguardar julgamento por crimes de guerra durante a guerra civil da Serra Leoa.
GEORGE W. BUSH - PRESIDENTE EUA Bush saudou a execução como “um marco” no caminho do país rumo a uma democracia capaz de se defender a si mesma, mas salientou que “não porá fim à violência”.
LULA DA SILVA - PRESIDENTE DO BRASIL Lula da Silva condenou a execução de Saddam e defendeu que o Iraque só terá os problemas resolvidos quando seu povo tomar as decisões, certas ou erradas.
M. BECKETT - C. DIPLOMACIA LONDRES Beckett afirmou que, apesar de o seu governo ser contra a pena de morte, Saddam Hussein “prestou contas” por alguns dos terríveis crimes que cometeu.
MURI AL-MALIKI - 1º MINISTRO IRAQUE O líder do governo iraquiano apelou à unidade de todos os iraquianos num dia em que o partido sunita Baas exortou o povo a erguer-se em massa contra o invasor.
ALEX. DOWNER - MNE DA ÁUSTRALIA O responsável da diplomacia australiana, Alexander Downer, elogiou a execução, considerando que “o povo iraquiano sabe agora que o ditador nunca mais voltará”.
HAMID KARZAI - PRES. DO AFEGANISTÃO O presidente afegão, Hamid Karzai, lembrou que as festividades do Eid al-Ahda, ontem iniciadas, são “um tempo de bondade e reconciliação e não de vingança”.
F. LOMBARDI - PORTA-VOZ DO VATICANOO porta-voz da Santa Sé frisou que “uma execução é sempre trágica e motivo de tristeza”, mesmo quando se trata de “alguém culpado de crimes graves”.
AHMADINEJAD - PRESIDENTE DO IRÃO O governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad felicitou “o povo iraniano e os mártires da guerra” (Irão-Iraque – 80/88) e considerou que o fim de Saddam “serve de exemplo aos criminosos actuais”.
Aqui ficou um breve post sobre a morte de Saddam,e não poderia faltar a comparação a outros homens que hoje são considerados monstros e inimigos da liberdade...
Enfim...é a Democracia... Só tenho pena a opinião do presidente do Irão que é um home que admiro tanto se favoravel a execução de Saddam...
<< Home